
Quando se fala sobre a morte accionamos de imediato uma barreira de resistência mental que funciona como defesa, porque a morte permanece um mistério para nós. É totalmente imprevisível o dia da sua chegada, e no entanto é certo e seguro que todos morreremos um dia, por isso evitamos falar nela. A morte é uma das experiências mais traumáticas e dolorosas da humanidade, quem não perdeu já entes queridos? Pai, mãe, irmãos, companheiros, ou filhos?... Quando perdemos alguém muito querido a dor torna-se insuportável e tolda-nos a visão da realidade. Só sentimos a dor da perda, a frágil insegurança na incerteza da vida, pois nunca vemos a morte como uma passagem para um novo degrau na escala do desenvolvimento espiritual. Reflectindo sobre a morte recordei ensinamentos deixados por Alan Kardec na sua vasta obra.
A morte natural dá-se pelo esgotamento dos órgãos do nosso corpo físico e é a morte que determina a partida do espírito. O espírito vai-se desprendendo da matéria como um lento despertar, e à medida que retorna à vida espiritual, o seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga como empregou o seu tempo na terra, se bem, se mal. Depois de deixar o corpo, a alma passa algum tempo em estado de perturbação pois ainda não está consciente do que aconteceu. Nos casos de morte violenta por suicídio, suplicio, acidentes etc., o espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto. Obstinadamente sustenta que não está. No entanto vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe porque não o ouvem. Surpreendido pela brusca mudança, considera ainda a morte como destruição e aniquilamento, e como pensa, vê e ouve tem a sensação de não estar morto. Esta ilusão mantém-se até ao total desprendimento do perispírito.
No intervalo das encarnações o espírito progride, aplica os conhecimentos e a experiência que alcançou na terra, reconhece as suas faltas, traça planos para uma futura nova existência. A encarnação não é uma punição para o espírito, e só depende dele abreviar pelo trabalho de depuração executado sobre si mesmo, a extensão do período de encarnação. Quando reencarna, depois do nascimento, à medida que o espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança do passado, sem perder as faculdades, qualidades e aptidões anteriormente adquiridas. O renascimento é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Eis pois um novo homem por mais antigo que seja como espírito...