09 setembro 2009

Cadeira de são Gens


Passados 5 anos a viver na zona da Graça e a fazer caminhadas ao miradouro da Senhora do Monte tantas e tantas vezes que já lhes perdi a conta, imaginei que a pequena igreja estivesse há muito encerrada, quando encontrei finalmente a porta aberta… É o meu dia de sorte! Pensei de mim para mim.
Dirigi-me para a porta e entrei, um grupo de mulheres rezava o terço, contemplei o templo e rezei com elas, depois sentei-me. Algo me disse para aguardar e a missa começou dentro de breves minutos, estava encantado com a energia, com a vida, com a sorte e com o facto de poder estar no sitio certo na hora exacta! A igreja abre ao público todos os dias das 15h às 18:30h e imaginem, em 5 anos nunca tive a oportunidade de lá ir nesse período de tempo. Quando a missa estava prestes a terminar, entra uma Sra. Grávida acompanhada de uma outra, mais velha. Aí então fiquei de olhos arregalados! Seria possível que aquela mulher estivesse ali para se poder sentar na mítica cadeira de São Gens e pedir um bom parto? Nem estava em mim, os olhos certamente faiscavam e tinha um dos meus mais rasgados sorrisos no rosto. Como é que era possível? Anos a ouvir a lenda da cadeira de São Gens, na qual se sentavam as mulheres com dificuldades em engravidar e aquelas que vinham de todo o país pedir um bom parto desde a idade média, e cuja tradição julgava perdida desde o início da sec. XX, viva e inalterada diante dos meus olhos, no primeiro dia em que consigo visitar a igreja. Aguardei! Finda a celebração da missa as mulheres dirigem-se à sacristia e pedem acesso á cadeira de São Gens. Presenciei uma das mais antigas tradições religiosas em Portugal, a Sra. sentou-se, acendeu uma vela, rezou e saiu deixando vela acesa, pedindo à Virgem e a são Gens protecção durante o parto, para si e para a criança que ia nascer dentro em breve seguramente, a avaliar pelo tamanha da barriga que ostentava. Saí também, cheio de energia, a flutuar, com a cabeça nas nuvens e alegria no coração. Voltei pra casa depois de um bom pedaço a ver a vista, naquele que é um dos miradouros mais emblemáticos de Lisboa. Deitei-me cedo, dormi profundamente sem me lembrar do que sonhei durante toda a noite e acordei de madrugada com uma trovoada de verão a cair sobre a cidade, do rio e da minha cabeça… energizando tudo e todos … deixo-vos com a “prova” fotográfica.