Vou partilhar convosco o sonho que tive na Noite de São João.
Estava eu a passear numa rua com a minha tia Ana Maria quando vejo um carro passar com um casal de velhotes que me dizia adeus. A imagem deles era esbatida, um pouco apagada até, de fisionomia estranhamente pálida e triste. Passamos por uma loja tipo quiosque à beira da estrada, vendia de tudo um pouco desde tabaco a artigos religiosos dos quais me chamou particularmente a atenção os terços de prata e algumas imagens de santos. Apercebemo-nos que a loja tinha sido assaltada, não estava ninguém por perto e a rua estava igualmente deserta.
Para meu espanto e horror a minha tia queria fanar os terços de prata que ali estavam à mão de quem passa... a minha própria tia!!!... Desconcertado tento dissuadi-la quando no horizonte se perfila a silhueta de um polícia a correr que acaba por desencoraja-la nos seus propósitos
Depois do polícia se aproximar aparece alguém a gritar “coitados dos velhotes, tanta gente tinha visto e ninguém tinha tido coragem de fazer nada!”. Atrás dessa pessoa que gritava veio uma multidão e eu vi passar novamente o carro com o casal de velhotes que me dizia adeus. Apercebi-me que eram os donos da loja, que tinham sido mortos pelo assaltante que apenas tinha levado tabaco. A pessoa que inicialmente apareceu a gritar, apontou para um edifício em frente e gritou de novo que o Anjo da Guarda tinha sido visto ali na biblioteca que, imaginem, era a "minha" biblioteca...
Corri para lá e entrei no edifício. Queria ver o Anjo, disso não tinha dúvidas e parecia que apenas eu tinha dado ouvidos ao louco que gritava furiosamente na rua... Comigo entrou um rapazito e a minha prima Ana Lídia (filha da minha tia Ana Maria). Entro no edifício e começo a procurar o Anjo ignorando a minha prima e o rapazinho moreno que entrara atrás de mim. A minha prima também o procura por todo o lado mas não encontrámos absolutamente nada. Paro um instante para meditar um pouco quando o rapazito me chama. Só então reparo nele, é moreno, delgado e aparentava cerca de onze anos de idade, olhos escuros de um brilho invulgar, cabelos ondulados castanho-escuro que lhe dava pelos ombros e um sorriso nos lábios. Eu nunca o tinha visto antes.
Chamou-me e disse: vem para aqui, medita connosco! Eu vou mas quando entro na sala só o vejo a ele. Começo a meditar e a sentir-me mal assim que fecho os olhos, começo a sentir e a ver uma energia negra que se quer apoderar de mim e que paralisa o meu corpo. Quase não consigo falar e o rapazito põe-se em cima do meu peito descalço a tentar ajudar-me, eu só consigo dizer-lhe que me está a magoar e coloco os pés dele em cima do meu peito simetricamente e de forma a não me aleijar. É então que ele mexe na minha cabeça e eu ouço o som dum interruptor a desligar alguma coisa, eu que já não conseguia falar começo a sentir-me melhor. Ele pergunta o que é que eu andei a fazer e eu respondo que fiz umas orações ao Arcanjo Miguel.
Para minha surpresa ele diz a sorrir: Ahhhhhh então é isso! Os monstrinhos do diabo não gostam do Arcanjo Miguel.
E no meu peito, como se me desligasse um interruptor junto ao coração ouço claramente um clique igual ao anterior. depois vem o mais insólito, o rapazinho pega em mim, dobra-me as pernas de uma forma estranha e lança-me ao chão para longe. Do meu coração sai um cordão vermelho que se desenrola à medida que me afasto dele a quando chega ao limite máximo eu olho para cima e espantado vejo um diabrete vermelho que se esvai em fumo.
A partir deste momento eu recupero as forças e apercebo-me que o rapazinho moreno, de olhos e cabelo castanho ondulado é o meu Anjo da Guarda!
Por isso ele tinha entrado comigo, esteve sempre ao meu lado, ainda que eu não lhe desse importância ou prestasse atenção e o procurasse noutro lugar.
Começo a puxar o tal fio na direcção do rapazinho e arrasto-me até ele.
Ele corta a maior parte do cordão, e diz que aquele cordão vermelho não pode voltar ao coração. Corta a parte do meio do cordão e volta a unir a extremidade do cordão que está junto ao meu coração com a que ele segura na mão, o cordão une-se de imediato e passa da cor vermelha para azul, o fio agora azul volta a entrar dentro de mim, enquanto as extremidades do cordão vermelho que ele cortou ardem no chão.
Acordo sobressaltado.
Abro os olhos e mantenho-me quieto durante alguns segundos, olho para o relógio. 5h:29m.
Levanto-me na madrugada e vou à sala onde tinha feito as minhas orações e acendido as minhas velinhas antes de me deitar. Só duas continuavam acesas,
a do Arcanjo Miguel e a de Santa Teresinha!
A última vela que tinha acendido era pela minha amiga Ana e tinha acabado de se apagar no momento exacto em que acordei do sonho porque a parte metálica daquelas tea light que uso estava quente.
Olhei melhor para as velas que continuavam acesas e pareciam ter ainda muita cera para arder mesmo assim voltei a acender uma vela ao Arcanjo Miguel em agradecimento pela protecção. Enquanto faço uma oração, em voz alta e em jeito de agradecimento as lágrimas rolam-me pela face.
Voltei ao quarto e quando entro na sala de novo as duas velas estão apagadas e só a que acendi em agradecimento continuava acesa.
Tudo isto é muito estranho mas eu estou calmo e muito tranquilo.
Para dizer a verdade eu estava em Paz naquele momento
Volto para o quarto, pego no telemóvel e envio uma mensagem a contar o estranho sonho à minha melhor amiga. Fico sonolento e demoro algum tempo. Enquanto relato o sonho e à medida que me vou lembrando dos pormenores e da fisionomia do meu Anjo da Guarda choro baixinho.
Envio a mensagem e volto a adormecer com uma enorme dor nas pernas...
Estranha noite de São João...
Curiosamente só me lembrei que era Noite de São João quase no finzinho da noite e não saí para tomar café como tinha combinado. Fiquei em casa, ao contrário dos tempos da minha infância em que saía para saltar a fogueira e queimar alcachofras para ver se floriam no dia seguinte, confirmando assim que era correspondido no Amor. Tirava rifas na quermesse da aldeia, enchia-me de arroz doce, porque sardinhas não era comigo, e voltava para casa cansado mas feliz!
A minha avó fez 82 anos, e tudo o resto aconteceu à revelia dos meus sentidos, e da minha vontade.
Para coroar a noite uma zanga por telefone com a minha melhor amiga por tolices sem sentido e por causa dela, da zanga, ainda hoje não me fala.
Parece que estava a ser castigado por não me ter lembrado, por não ter festejado a noite de São João como nos velhos tempos...
Tolice a minha... o castigo não foi por isso!
Depois de tudo isto o sonho que vos contei, mas querem saber?
Sinto-me redimido, purificado.
Fechei um ciclo com a Ana, e o que um desaire fez o meu Anjo da Guarda desfez!
Espero que a minha melhor amiga reconsidere e façamos as pazes, porque eu não estou zangado com ela...
Estranha noite de São João!
Rei Sapo