Ser "poeta" é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
Imagem: Alfred Gockel
P.S. - Coloquei a palavra ser "poeta" entre aspas propositadamente para que possamos substitui-las por ser “Amor”, “Deus”, “Alegre”, “Feliz”, “Louco”, o que quisermos... Para reflectir-mos no poema, nas substituições e na vida. Florbela Espanca revela neste poema o que sempre procurou, mas mostra também a resposta para a sua busca. Será que se encontrou a si mesma? Ou escutou a sua alma a gritar-lhe a resposta aos seus anseios e escreveu-a sem nunca ter coragem de coloca-la em prática?... Teremos nós essa coragem?

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