18 dezembro 2006

Sobre o Prazer


"O prazer é uma canção de liberdade, mas não é liberdade. É o desabrochar dos desejos, mas não é os seus frutos. É um chamamento profundo para as alturas, mas não é profundo nem alto. É o encarcerado a ganhar asas, mas não é o espaço que o circunda. Sim, na verdade o prazer é uma canção de liberdade. E bem gostaria que a cantássemos com todo o coração; No entanto não percamos os nossos corações nos cânticos. Muitos procuram o prazer como se isso fosse tudo,... Eu não os julgaria nem puniria. Gostaria porém que empreendessem na busca, pois eles encontrarão prazer, mas não só...
Alguns recordam os prazeres com remorsos, mas deveriam lembrar-se dos prazeres com gratidão, tal como fariam após uma colheita no verão.
Quem pode ofender o espírito? Será que o rouxinol consegue ofender a quietude da noite ou o brilho das estrelas? E as vossas chamas ou fumo conseguem carregar o vento? Pensais que o espírito é um lago imóvel que podeis perturbar?
Muitas vezes ao negarmos a nós mesmos o prazer, estamos a ocultar o desejo nos recônditos do nosso SER. Quem sabe que o que parece ser omitido hoje espera por amanhã? Até o nosso corpo conhece a sua herança e as suas necessidades e não sairá desiludido.
O nosso corpo é a harpa da alma, e é a nós que compete extrair dela uma doce melodia ou sons confusos.
E no nosso coração perguntamos: Como distinguiremos o que é bom no prazer do que não é?
Ide para os vossos campos e jardins e aprendereis que o prazer da abelha consiste em retirar o mel da flor. Mas também a flor tem prazer em dar o seu mel à abelha, pois para a abelha a flor é uma fonte de vida, e para a flor a abelha é mensageira de amor. E, para ambas, abelha e flor, o dar e o receber de prazer é uma necessidade e um êxtase.”

Khalil Gibran in “O profeta”

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