07 dezembro 2006

A solidão, o grande relógio e a viagem...


Imagem: Relógio Astronómico de Praga

Ontem à noite ao ver uma reportagem no telejornal sobre a solidão, vi-me confrontado com uma das situações mais difíceis de suportar e que é a realidade de muitos milhares de pessoas no mundo mas também no nosso país, quer nas grandes cidades quer no espaço rural. No decorrer da reportagem uma das entrevistadas com 102 anos contava a sua história. Viúva, sem filhos, vivia sozinha há já 50 anos. Tinha dificuldades de locomoção, sobrevivia sem sair à rua com a ajuda de uma vizinha, dizia já estar habituada e concluiu o relato dizendo que apesar da solidão não tinha pressa em fazer a “viagem”... Dei uma risada com gosto pela maneira como a frase foi dita! A expressão daquela senhora ficou-me na cabeça.

“Não tenho pressa em fazer a viagem!”

Na série “Entre vidas” que passa na SIC em contraposição ouvi uma outra concepção para o envelhecimento, solidão e a viagem. Uma senhora idosa num lar de terceira idade dizia à neta que se sentia muito bem no Lar, que não se preocupava com nada, as pessoas eram simpáticas, tratavam de tudo e ainda apareciam de vez em quando uns cavalheiros muito bem parecidos. Perante a preocupação da neta que insistia em querer levá-la para casa ela responde que não. Que já tinha muita idade, que o mundo é um grande relógio que nunca pára, que sabia o tempo que lhe restava e que aguardava a hora de poder fazer a viagem...

Fiquei pensativo e comparei as duas situações. Ambas com idade avançada, tinham vivido o seu tempo, tinham feitos escolhas, seguiram o seu caminho e com o tempo a esgotar-se têm perspectivas diametralmente opostas.

Uma vive feliz com a situação que tem, sabe que o relógio não pára que a viagem está marcada e aguarda a hora de poder partir em paz, a outra sente na pele a solidão, depende da boa vontade dos vizinhos para quase tudo e mesmo depois de um século de vida não está preparada para enfrentar a morte.

Acho que a diferença destas duas histórias está na vivência espiritual de cada uma delas. Quando alguém vive a espiritualidade de forma sã e consciente não receia a morte, porque a morte é uma passagem... passagem para um nível superior de consciência onde a aprendizagem que fazemos na terra produz realmente os seus efeitos.

Quem faz o percurso certo vive o seu tempo tranquilamente e sabe que não está só!

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